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Encontros
24 de Novembro de 2004
Três tristes tigres trocam tramas tecnológicas

Ao meio da semana juntaram-se o Paulo, o Filipe e eu no campo raso de todas as virtudes e venturas (vulgo Atalaia B). Os primeiros dois vieram de propósito e bem ponderado, pois tinham chegado a Portugal uma remessa substancial de novas montagens todo coiso e goto, e ambos eram novos donos dessas maravilhas. Com a previsível degradação, provavelmente até prolongada, do tempo associado a tais aquisições, queríamos apanhar os serviços celestes ainda desprevenidos e aproveitar a noite, antes que a máquina do tempo pudesse azedar o gozo da estreia e arrefecer o calor que invade qualquer um ao querer experimentar a sua nova auto-prenda pré-natálica.

Assim, com um nevoeiro rente do solo a lembrar as ruelas estreitas em Londres, Jack-o Estripador e uma taça de leite chocolate quente junto de uma lareira acesa, foram montadas as duas grandes montagens num processo demorado, rico em vocabulário semi-ofensivo, que até fez um cavalo fugir em galope e uma vaca berrar, parecendo que dava luz a uma manada de vitelas ao mesmo tempo.
Enquanto o Paulo e o Filipe se entretinham com a instalação de todas as peças, já estava eu com uma montagem comparativamente irrisória e toda manual a esboçar em papel a cratera Aristarchus e a rima não-sei-quantas que lá fica por perto, parecendo (com esta idade da lua) o estuário de um antigo rio seco.

Hora e tantas passadas.
Ultrapassadas a resistência do material, a insistência voltaica de querer correr no sentido oposto, a teimosia dos controladores em aceitar que estamos na Terra e no hemisfério Norte, e a impossibilidade de colocar a estrela polar num ponto mais acessível no céu, chegou o momento de dar as primeiros passo com as novas montagens

Bem, o que posso dizer. Houve uma interessante lição sobre o céu estrelado. Foi pena não ter havido principiantes de astronomia por perto, pois terão tim-tim por tim-tim, aprendido a posição de todas as estrelas mais luminosas no céu. A mim deu como novidade prática, que, mesmo uma montagem de fazer inveja aos pilares de uma ponte e todo computerizada, não é mais inteligente que um batedor de ovos, mas faz estragos substancialmente maior se o contrapeso cair sobre o pé do seu utilizador.

Enfim. Muitas voltas em declinação e ascensão recta mais tarde, tanto um como outro, conseguiram que as montagens realmente colocavam os objectos pretendidos no campo de visão.
Mas ai começou um outro problema. Enquanto um não conseguiu focar a imagem nem em seja qual ocular, por ter trocado e ainda não experimentado um novo focador, o outro, mais virado para as brincadeiras electrónicas, debatia-se com uma câmara que parecia piscar os olhos de alegria, pois ora funcionava, ora não.
Por fim, só restou a um, fazer acrobacia mecânica que até teria deliciado a mente inventiva de Leonardo DaVinci, e ao outro, aceitar a recusa insistente das câmaras CCD de funcionar em conjunto, antes que o seu computador decidir de se juntar a estas (des)andanças da electrónica.

Aproveitamos ainda umas vistas interessantes sob Saturno, tiramos-lhe um retrato em luz H-alfa, demos umas espreitadelas na Lua (nisso eu já estava bastante bem servido nessa noite) e concluímos com resultados não totalmente iguais na proporção de 2:1, que as novas montagens são bem fiáveis, bem confortáveis, bem aspectadas e muito difíceis de arrumar na embalagem de origem.

O desfecho foi uma tertúlia de 3 às 3 da matina no sítio do costume.
Três alegres tigres voltaram depois para as suas casas.

Grom

For reasons yet unknown, above text will not be available in English. You may however attend a Portuguese language course nearby you. It actually might turn out useful, if you plan to watch the annular solar eclipse in October 2005.