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28 de Setembro de 2003
Viagem a La Palma Dia 18, 5ª feira, colocámos todo o material a transportar junto à carrinha do Rui e começámos a rir, muitos de nós não acreditando que fosse possível acondicionar toda aquela parafernália. Com os Obsessions de 18" e 15", mais o Merak de 12" lá dentro, começaram os ensaios para, sem danificar os materiais mais sensíveis, arrumar montagens, tripés, caixas de acessórios, malas de oculares, mais telescópios, mesas, agasalhos, livros, baterias, computadores e tudo aquilo que não refiro, por não me lembrar. Após porfiados esforços, lá ficou tudo dentro e, assim esperamos, devidamente acondicionado. Um breve jantar, a terminar pelas 23:20 horas, pôs fim à odisseia do 1º dia. O 2º dia, 6ª feira, dia 19, começou cedo para os voluntários Rui Tripa, Alfonso e Alberto. O encontro foi marcado para as 03:15 horas na área de serviço habitual, tendo sido cumprido pontualmente.. Alfonso e Alberto, juntos na viatura deste último e Rui Tripa com a preciosa carga. Feito reabastecimento das viaturas e dos estômagos, partimos rumo a Cádiz, com o Rui a abrir o caminho, em velocidade moderada mas certinha, a proporcionar nas primeiras 3 horas a média de 112 km/h. Essa média baixou, depois, um pouco, devido ao muito trânsito nas proximidades de Sevilha e entrada de Cádiz, onde, nomeadamente, perdemos 15 minutos com operação de uma ponte levadiça, passagem obrigatória para acesso à cidade. Finalmente, às 10:50 locais, 09:50 de Lisboa, percorridos 580 km, entrámos no Porto de Cádiz. O despacho decorreu exactamente como previsto e acordado. Ficámos espantados com o tamanho do ferry e com a quantidade de material a transportar. É de realçar a simpatia e disponibilidade das pessoas envolvidas. E é obrigatório focar um aspecto ligado às autoridades aduaneiras de La Palma. Normalmente, teríamos de pagar uma taxa igual a 5% do valor do material transportado, o que daria a módica soma de 3500 euros, que, mais tarde, quando não se sabe, seriam recuperados. Pois, por interferência da Associação de Astrónomos Amadores de La Palma, nomeadamente do seu Presidente, Toño Gonzalez, ficámos isentos de qualquer pagamento, tendo a alfândega considerado que se tratava de material científico e, como tal, não sujeito a taxas. Um petisco num bar e um pequeno passeio, seguidos de um almoço bem merecido, levaram-nos até ás 14:30, hora em que encetámos a viagem de regresso. Em andamento vivo, chegámos pelas 19:20, após termos perdido 20 minutos devido a obras de repavimentação, cansados e ensonados, mas prontos para a 2ª etapa - a maratona de comboio, metro, avião, barco e finalmente automovel que nos há-de levar a Garafia, La Palma, onde esperamos encontrar intactos todos os materiais tão laboriosamente transportados. A 23 de Setembro, pelas 21.30 horas, encontrámo-nos, em S.ta Apolónia, eu, o Alfonso, o José Ribeiro, a Fátima e o Hugo. O Hugo, além da bagagem pessoal, carregava 6 garrafas de Porto, destinadas a ofertas aos nossos anfitriões em La Palma. Pontualmente, às 22:01, o comboio partiu, para parar, alguns minutos mais tarde, na Gare do Oriente, onde embarcaram o Luís Carreira, o Pedro Mota, a Adília, o Anselmo, o Rui Tripa e a Paula. Iniciada a longa jornada até Madrid, rumámos todos à carruagem bar, onde foram abatidas umas "naglers" e se pôs toda a conversa em dia. Umas horas de sono a fingir - o Anselmo não teve direito a dormir, como castigo por só se ter decidido à última hora - e chegávamos a Chamartin, Madrid. Liderados pelo Alfonso, tomámos o Metro e, pouco depois estávamos em Barajas. O Rui e a Paula partiram de imediato, em voo directo a La Palma, encarregados de recuperar a carrinha, entretanto já à guarda do Toño González, comprar abastecimentos para a esfomeada troupe que havia de chegar tarde e a más horas e localizar as casas de turismo rural onde iríamos residir durante a estadia. Escusado dizer que cumpriram a preceito. Nota alta! Pelas 12:00, partiram Alberto, Alfonso, Luís, Hugo, Pedro Mota e Adília. O Zé, a Fátima e o Anselmo tiveram de aguardar até às 15:00. O primeiro grupo aguardou o segundo no aeroporto de Tenerife Sul, de onde, em táxis super-rápidos - 160 km de velocidade média - partiram e, com alívio, chegaram a Los Cristianos. Mais uma espera pelo Ferry e, à hora marcada, partimos todos rumo a La Palma. Extraordinário este ferry, um catamaran. Enorme, com uma cabine de passageiros muito agradável, velocidade de cruzeiro que chegou a 37 NM, 68,5 km/h, de grande estabilidade, proporcionava uma vista magnífica. À ré, o efeito de estabilização dos potentes motores tornavam a viagem ainda mais agradável. Em La Palma aguardavam-nos o Toño Gonzalez e a esposa, gentileza que não é demais relembrar e, como previsto, duas viaturas de aluguer, com as quais percorremos os últimos quilómetros desta maratona. Fomos ao encontro do Rui e da Paula e eles fizeram de cicerones até às casas onde iríamos pernoitar. Distribuídos pelas três casas, reunimo-nos todos na que havia de ser quartel-general para uns comes e bebes.Lá pelas 03:00, dia 25, fomos dormir, que o dia havia de ser dia de trabalho. Dia 25 Dormimos até um pouco mais tarde, fomos almoçar e, a meio da tarde, com todo o material, subimos ao Observatório de Astronomia e Astrofísica do Roque de Los Muchachos. Aí chegados, estacionámos os carros num dos heliportos e descarregámos completamente a carrinha, dispondo todo o material ao lado da mesma, para podermos registar tudo em imagem, após o que iniciámos a montagem dos telescópios para a primeira noite de observação. A meio da tarefa, fomos convocados para uma visita ao Telescópio Solar Sueco. Ficou tudo como estava e lá fomos, com o Noel como guia. Nota: Das visitas, conteúdo e pormenores, o Zé Ribeiro pensa fazer um relato que será, por certo, mais objectivo. Já noite, regressámos ao heliporto, completámos a instalação dos equipamentos e fizemos o costumeiro picnic. Início de observação, grita o Zé: - não há escadote! Como por magia, um pouco depois surgia o Toño com um escadote que dava até para um 30". Foi uma bela noite, na companhia dos nossos anfitriões. Mais que a quantidade de objectos observados, valeu a definição com que puderam ser vistos. Stephen's Quintet, M57 e a estrela central, M33, M 31, M32, M110, NGC 7009 - Saturn Nebula, NGC 7293 - Helix Nebula, M13, M15, M 51, M 77, NGC 7000 - North America, NGC's 6960.6992,6995 - Veil Nebula, Crescent Nebula, NGC 6543 - Neb. Plan. em DRACO, NGC 1300 - espiral barrada em ERIDANUS, NGC 1316 em FORNAX, M 35, M 79, NGC's 869 e 884 - Duplo de PERSEU, M 74, M46 com NGC 2438, M 47, NGC 253 - a grande galáxia do SCULPTOR, M 11, M16 - Eagle Nebula, M1, M33, M 27 - Dumbell Nebula, passagem demorada por SCORPIO e SAGITARIUS e vários outros que a memória não quis relembrar foram a ementa das duas noites de observação realizadas no Roque de los Muchachos. Nesta primeira noite, pelas 04:00, por soprar um vento bastante forte, arrumámos o material. Deixámos a carrinha em local que nos fora disponibilizado para o efeito. Igualmente nos foi concedido acesso a uma área com casas de banho e local de repouso, abertas para nós sem qualquer controle. Finalmente a partida, com o Alfonso a abrir e fechar os portões de acesso ao Observatório, com uma chave que lhe fora confiada, chave que se manteve em sua posse até ao dia da partida. Dia 26 Após curta noite de sono, rumámos ao topo para visitas aos telescópios William Herschel e Isaac Newton, com o Javier como anfitrião. Depois foi o Mercator com o Bernard Nicolet. Mais tarde o Galileo com o Marco Pedani e, para terminar, uma corrida ao Telescópio Solar. Um dia fabuloso, cheio de ensinamentos, boa disposição e convívio. Azar tiveram o Rui e a Paula que, adoentados, recolheram a casa mais cedo, perdendo parte das visitas. Nesta noite, devido a vento forte, não houve observações. Dia 27 Durante a manhã, houve visita turística a Santa Cruz de la Palma. Aí fizemos abastecimentos para o picnic nocturno, com intenção de almoçar num restaurante, no caminho de regresso. Aí chegados, restaurante fechado, tentámos um outro que estava repleto. O Rui e a Paula, ainda abalados no seu estado de saúde, e ainda o Anselmo decidiram ficar para almoçar, enquanto os restantes optaram por almoçar o picnic do jantar, a meio da subida por forma a estarem a tempo da visita ao William Herschel. Aqui aguardaram pelo nosso grupo para fazerem a abertura da cúpula e colocaram o telescópio em posição tal que podíamos ver-nos reflectidos no espelho primário. Experiência única que jamais esqueceremos! Daí partimos a correr rumo ao GTC, Gran Tecan, o Grande Telescópio das Canárias, que terá o maior espelho do mundo, com 11,35 metros de diâmetro. Ali nos esperava o Ramón que nos mostrou, exaustivamente, todos os recantos e nos deixou em perfeita liberdade dentro da enorme cúpula. Partimos quando quisemos. Foi fantástico. Receosos do vento que continuava a soprar forte, pedimos autorização para montarmos os telescópios à "sombra" do Gran Tecan, convencidos de que a resposta seria negativa. Surpresa! Em poucos minutos aí estava a autorização. Já antes, o Bernard Nicolet nos disponibilizara uma área protegida do vento pelo seu telescópio, o Mercator, área que,no entanto, era pequena demais para os nossos equipamentos. Fomos jantar e, pelas 23:00, estávamos instalados junto ao Gran Tecan. De novo destaco o termos visto a Horsehead Nebula, no Obsession 15", com oculares de 24 e 22mm e filtro H beta, bem como a California Nebula e Crescent Nebula. Foi uma noite muito rica que terminou já pasava das 06:00. Ainda arranjámos forças para meter tudo na carrinha, na posição em que seguiria para Lisboa, ficando por carregar unicamente os pequenos volumes de última hora. Foi um belo trabalho, feito no escuro pelos resistentes Zé, Alberto, Alfonso, Hugo e Luís. Passava das 08:00 de 28, quando chegámos às casas, cansados mas "de papo cheio". Dormimos um pouco, fomos almoçar, fizemos um pequeno passeio até à beira mar. Beira mar, é uma forma de dizer. Alguns foram até à beira da água, para o que tiveram de descer uma escarpada falésia e, o que foi mais difícil, subi-la. Houve quem ficasse no topo, quem desistisse a meio e quem fosse até ao fim. Não posso deixar de referir o Luís Carreira que, heroicamente, desceu até à beira da água e, claro, teve que subir. Um exemplo para os preguiçosos que ficaram lá em cima. O Alfonso até tomou banho. O Alberto e a Adília, não contentes com aquela escarpa, decidiram subir a que estava em frente também. Uma tarde bem passada. Tentámos jantar num restaurante próximo, mas encontrámo-lo fechado. Então decidimos petiscar o que restava dos nossos abastecimentos, o que fizemos ao ar livre, fruindo aquele maravilhoso céu. Abrimos a última garrafa de Porto e fizemos um brinde às próximas expedições. Dia 28 Encontro marcado para as 04:00 horas. O Rui, a Paula e o Anselmo ficaram dispensados desta hora matutina porque seguiriam, ao fim da manhã, em avião directo a Madrid. O Rui ficou igualmente com a incumbência de despachar a carrinha. Quanto aos oito restantes, às 4 em ponto - a pontualidade é muito bonita - partimos para Santa Cruz de La Palma, onde às 06:30, apanhámos o ferry para Tenerife. A referir a comparência, àquela hora matinal, do Toño González. Obrigado ,Toño! Para a viagem de regresso, basta ler do fim para o princípio, o relato da ida, com a diferença que, em Tenerife, substituímos os taxis supersónicos por uma carrinha de 9 lugares, na qual nos deslocámos a Puerto de La Cruz e S.ta Cruz de Tenerife. Na viagem de comboio, antes de irmos dormir, fizemos as contas da viagem, no bar, obviamente, mas com consumo moderado. A chegada a Lisboa aconteceu na hora prevista. Etapa final Dia 29, na viatura do Alberto, partiram este, o Zé Ribeiro e Rui Tripa, rumo a Cádiz. Após reabastecimento da viatura e pequeno almoço, com o Zé ao volante e ainda inspirado pelos supersónicos taxis de Tenerife, partimos para uma viagem de 4 horas até Cádiz. Recuperada a carrinha e o material, regressámos a Lisboa. Chegámos pelas 23:30. E foi o fim! Li, há alguns anos, um livro - O Despertar dos Mágicos (Le Matin des Magiciens) - que terminava assim: - "É permitido sonhar. O perigo é que o sonho fique aquém da realidade". Desta vez o sonho ficou aquém da realidade. Bons sonhos! Alberto
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